4 Fatores que influenciam a flexibilidade
- Chandra
- 15 de jun.
- 4 min de leitura

A flexibilidade é a capacidade que o corpo tem de realizar movimentos amplos e eficazes nas articulações, com o envolvimento adequado dos músculos e tecidos conjuntivos. Embora possa ser treinada e desenvolvida, a flexibilidade é influenciada por diversos fatores — alguns modificáveis e outros determinados pela nossa própria constituição.
Genética e constituição corporal
A genética desempenha um papel fundamental na flexibilidade. A estrutura óssea, a elasticidade dos tendões e ligamentos, o comprimento dos músculos e a proporção entre fibras musculares de contração rápida e lenta são características herdadas que condicionam o potencial de amplitude de movimento de cada pessoa.
Por exemplo, pessoas com articulações mais “soltas” (hipermobilidade) ou com menor espessura capsular nas articulações tendem a apresentar maior flexibilidade natural. A forma como os ossos se articulam também impõe limites biomecânicos — o que explica por que duas pessoas, mesmo com treino semelhante, podem ter amplitudes de movimento diferentes (Alter, 2004).
Idade
A flexibilidade tende a diminuir com a idade, especialmente se não for trabalhada de forma ativa. Com o envelhecimento, os tecidos conjuntivos perdem elasticidade, os músculos encurtam e há um aumento da rigidez articular (Chandler & Brown, 2008). Além disso, há uma redução na produção de colagénio e elastina, proteínas essenciais para a mobilidade dos tecidos.
No entanto, esta perda não é inevitável nem irreversível: estudos mostram que programas regulares de alongamento e mobilidade podem manter ou até melhorar a flexibilidade em idosos, contribuindo para a autonomia e prevenção de quedas (Stathokostas et al., 2012).
Hidratação
A hidratação adequada é muitas vezes subestimada, mas desempenha um papel essencial na saúde dos tecidos. Os músculos, tendões, ligamentos e fascias são compostos por uma elevada percentagem de água. A falta de hidratação pode levar ao aumento da rigidez e à diminuição da mobilidade articular, tornando os movimentos mais limitados e aumentando o risco de lesões.
A fáscia, por exemplo, precisa de estar bem hidratada para deslizar corretamente sobre os tecidos adjacentes. Quando desidratada, torna-se mais aderente e menos elástica, dificultando o movimento fluido (Schleip et al., 2012).
Estado emocional
As emoções influenciam diretamente o tónus muscular. Estados emocionais como ansiedade, medo ou tristeza podem provocar tensões musculares inconscientes, especialmente nas zonas do pescoço, ombros, mandíbula e região lombar. A conexão entre emoções e corpo é mediada pelo sistema nervoso autónomo, que ativa mecanismos de defesa em situações de stress, como o aumento da rigidez muscular (Kolk, 2014).
Ao praticar alongamentos ou Yoga com consciência corporal, é possível aceder a zonas de tensão emocional acumulada, promovendo não só alívio físico, mas também relaxamento psicoemocional.
Respiração e tensão mental
A respiração tem um papel regulador sobre o sistema nervoso. Quando estamos em tensão mental ou sob stress, tendemos a respirar de forma superficial, o que mantém o corpo num estado de alerta. Essa resposta ativa a musculatura (particularmente a torácica e cervical) e reduz a capacidade do corpo de se soltar.
Pelo contrário, uma respiração consciente e profunda ativa o sistema parassimpático, promovendo relaxamento, libertação muscular e maior amplitude nos alongamentos. Há evidência de que a integração da respiração durante práticas de mobilidade melhora significativamente os resultados do treino de flexibilidade (Ramos et al., 2015).
Estilo de vida sedentário
Um estilo de vida sedentário é um dos principais fatores de rigidez muscular e articular. Permanecer longos períodos sentado, por exemplo, encurta a musculatura posterior das pernas, o flexor do quadril (iliopsoas) e reduz a mobilidade da coluna vertebral. A inatividade também compromete a lubrificação articular e a saúde das fáscias.
Estudos apontam que a falta de movimento leva a alterações estruturais nos tecidos, como a perda de elasticidade muscular e o aumento da densidade do tecido conjuntivo, dificultando os movimentos funcionais (Kjaer, 2004). Por isso, a prática regular de mobilidade e alongamentos é fundamental para contrariar os efeitos da vida sedentária.
Portanto:
A flexibilidade é muito mais do que uma qualidade física desejável — é um reflexo do estado geral do corpo e da mente. Embora fatores como a genética ou a idade não possam ser alterados, muitos outros aspetos que influenciam a flexibilidade estão ao nosso alcance e podem ser trabalhados de forma consciente.
Manter o corpo hidratado, respirar com presença, cuidar da saúde emocional e contrariar o sedentarismo são passos fundamentais para preservar e desenvolver a mobilidade ao longo da vida. Incorporar práticas regulares de alongamento, como no Yoga, é uma forma eficaz de cultivar não só a flexibilidade física, mas também o equilíbrio interior e o bem-estar integral.
A flexibilidade não se conquista de um dia para o outro — mas com consistência, escuta do corpo e paciência, torna-se uma aliada para uma vida mais ágil, consciente e saudável.
Namastê
Referências:
Alter, M. J. (2004). Science of Flexibility.
Chandler, T. J., & Brown, L. E. (2008). Conditioning for Strength and Human Performance.
Stathokostas, L. et al. (2012). “Flexibility training and functional ability in older adults: a systematic review”.
Schleip, R., et al. (2012). Fascia: The Tensional Network of the Human Body.
van der Kolk, B. (2014). The Body Keeps the Score.
Ramos, G. et al. (2015). “Effects of breathing techniques on flexibility and relaxation in yoga practice”.
Kjaer, M. (2004). “Role of extracellular matrix in adaptation of tendon and skeletal muscle to mechanical loading”.
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