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4 Fatores que influenciam a flexibilidade

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A flexibilidade é a capacidade que o corpo tem de realizar movimentos amplos e eficazes nas articulações, com o envolvimento adequado dos músculos e tecidos conjuntivos. Embora possa ser treinada e desenvolvida, a flexibilidade é influenciada por diversos fatores — alguns modificáveis e outros determinados pela nossa própria constituição.



Genética e constituição corporal


A genética desempenha um papel fundamental na flexibilidade. A estrutura óssea, a elasticidade dos tendões e ligamentos, o comprimento dos músculos e a proporção entre fibras musculares de contração rápida e lenta são características herdadas que condicionam o potencial de amplitude de movimento de cada pessoa.

Por exemplo, pessoas com articulações mais “soltas” (hipermobilidade) ou com menor espessura capsular nas articulações tendem a apresentar maior flexibilidade natural. A forma como os ossos se articulam também impõe limites biomecânicos — o que explica por que duas pessoas, mesmo com treino semelhante, podem ter amplitudes de movimento diferentes (Alter, 2004).



Idade

A flexibilidade tende a diminuir com a idade, especialmente se não for trabalhada de forma ativa. Com o envelhecimento, os tecidos conjuntivos perdem elasticidade, os músculos encurtam e há um aumento da rigidez articular (Chandler & Brown, 2008). Além disso, há uma redução na produção de colagénio e elastina, proteínas essenciais para a mobilidade dos tecidos.


No entanto, esta perda não é inevitável nem irreversível: estudos mostram que programas regulares de alongamento e mobilidade podem manter ou até melhorar a flexibilidade em idosos, contribuindo para a autonomia e prevenção de quedas (Stathokostas et al., 2012).



Hidratação

A hidratação adequada é muitas vezes subestimada, mas desempenha um papel essencial na saúde dos tecidos. Os músculos, tendões, ligamentos e fascias são compostos por uma elevada percentagem de água. A falta de hidratação pode levar ao aumento da rigidez e à diminuição da mobilidade articular, tornando os movimentos mais limitados e aumentando o risco de lesões.


A fáscia, por exemplo, precisa de estar bem hidratada para deslizar corretamente sobre os tecidos adjacentes. Quando desidratada, torna-se mais aderente e menos elástica, dificultando o movimento fluido (Schleip et al., 2012).



Estado emocional

As emoções influenciam diretamente o tónus muscular. Estados emocionais como ansiedade, medo ou tristeza podem provocar tensões musculares inconscientes, especialmente nas zonas do pescoço, ombros, mandíbula e região lombar. A conexão entre emoções e corpo é mediada pelo sistema nervoso autónomo, que ativa mecanismos de defesa em situações de stress, como o aumento da rigidez muscular (Kolk, 2014).


Ao praticar alongamentos ou Yoga com consciência corporal, é possível aceder a zonas de tensão emocional acumulada, promovendo não só alívio físico, mas também relaxamento psicoemocional.



Respiração e tensão mental

A respiração tem um papel regulador sobre o sistema nervoso. Quando estamos em tensão mental ou sob stress, tendemos a respirar de forma superficial, o que mantém o corpo num estado de alerta. Essa resposta ativa a musculatura (particularmente a torácica e cervical) e reduz a capacidade do corpo de se soltar.


Pelo contrário, uma respiração consciente e profunda ativa o sistema parassimpático, promovendo relaxamento, libertação muscular e maior amplitude nos alongamentos. Há evidência de que a integração da respiração durante práticas de mobilidade melhora significativamente os resultados do treino de flexibilidade (Ramos et al., 2015).



Estilo de vida sedentário

Um estilo de vida sedentário é um dos principais fatores de rigidez muscular e articular. Permanecer longos períodos sentado, por exemplo, encurta a musculatura posterior das pernas, o flexor do quadril (iliopsoas) e reduz a mobilidade da coluna vertebral. A inatividade também compromete a lubrificação articular e a saúde das fáscias.


Estudos apontam que a falta de movimento leva a alterações estruturais nos tecidos, como a perda de elasticidade muscular e o aumento da densidade do tecido conjuntivo, dificultando os movimentos funcionais (Kjaer, 2004). Por isso, a prática regular de mobilidade e alongamentos é fundamental para contrariar os efeitos da vida sedentária.



Portanto:

A flexibilidade é muito mais do que uma qualidade física desejável — é um reflexo do estado geral do corpo e da mente. Embora fatores como a genética ou a idade não possam ser alterados, muitos outros aspetos que influenciam a flexibilidade estão ao nosso alcance e podem ser trabalhados de forma consciente.

Manter o corpo hidratado, respirar com presença, cuidar da saúde emocional e contrariar o sedentarismo são passos fundamentais para preservar e desenvolver a mobilidade ao longo da vida. Incorporar práticas regulares de alongamento, como no Yoga, é uma forma eficaz de cultivar não só a flexibilidade física, mas também o equilíbrio interior e o bem-estar integral.


A flexibilidade não se conquista de um dia para o outro — mas com consistência, escuta do corpo e paciência, torna-se uma aliada para uma vida mais ágil, consciente e saudável.


Namastê


Referências:

  • Alter, M. J. (2004). Science of Flexibility.

  • Chandler, T. J., & Brown, L. E. (2008). Conditioning for Strength and Human Performance.

  • Stathokostas, L. et al. (2012). “Flexibility training and functional ability in older adults: a systematic review”.

  • Schleip, R., et al. (2012). Fascia: The Tensional Network of the Human Body.

  • van der Kolk, B. (2014). The Body Keeps the Score.

  • Ramos, G. et al. (2015). “Effects of breathing techniques on flexibility and relaxation in yoga practice”.

  • Kjaer, M. (2004). “Role of extracellular matrix in adaptation of tendon and skeletal muscle to mechanical loading”.

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